Você sabia que Março é o mês dedicado à luta contra o câncer do colo do útero? Assim como o Outubro Rosa e outros meses temáticos, essa é uma campanha ampla que tem como principal objetivo promover a conscientização das pessoas a respeito dessa doença.
Convidamos a Dra. Nadia Sclearuc de Siqueira, médica especialista em Oncologia, para falar um pouco sobre esse câncer que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o terceiro mais incidente entre as mulheres brasileiras. A especialista destaca também que, mundialmente, a doença leva mais de 300 mil mulheres a óbito todos os anos.
As medidas de prevenção e rastreio são
simples e acessíveis. Desse modo, o Março Lilás é um mês de grande relevância
para promover a maior aderência da população feminina a esses cuidados. Continue
a leitura para entender melhor!
O que é o Março Lilás?
Março Lilás é o mês dedicado à campanha
ampla e multidimensional para informação sobre o câncer do colo de útero. Nesse
período do ano, muitos órgãos públicos e instituições privadas de saúde lançam
mão de iniciativas para promover a prevenção da doença, em ambientes como:
●
clínicas;
●
unidades de saúde básica;
●
empresas;
●
canais de comunicação (redes
sociais, TV, rádio etc.);
●
escolas.
Quais são as causas do câncer
de colo de útero?
O câncer do colo do útero se desenvolve na
parte inferior do útero, que fica no fundo da vagina. A principal causa é a
evolução de lesões causadas pelo papilomavírus humano (HPV), que gera
alterações nas células cervicais.
Mas atenção: ter o HPV não leva ao câncer
do colo de útero, necessariamente. Conforme a especialista em Oncologia, esse é
um vírus muito comum, e estima-se que surjam 700 mil novos casos de infecção
por ano. De acordo com essa incidência, cerca de 80% da população sexualmente
ativa é infectada com o HPV em algum momento de sua vida.
Na maioria dos casos, a resposta imunológica natural do corpo é capaz de eliminar a infecção no período de 12 a 24 meses. Quando esse processo não ocorre e também não há intervenção médica adequada, as lesões ocasionadas pelo vírus se agravam lentamente — podendo passar anos sem qualquer sintoma ou incômodo — e podendo progredir para lesões pré malignas e depois malignas (cancer invasor).
Alguns fatores de risco para a evolução do
HPV são:
●
falta de diagnóstico e
acompanhamento médico;
●
vida sexual ativa (com maior
número de parceiros);
●
doenças relacionadas a baixa imunidade (imunossupressão) por
exemplo relacionadas a transplantes prévios, HIV;
●
ter mais do que 30 anos, visto
que acima dessa idade a regressão espontânea das feridas perde um pouco de
efetividade.
O vírus HPV
A infecção por HPV é muito comum e, na maioria dos casos, inofensiva. Sua principal consequência é o aparecimento de verrugas irregulares dentro e fora dos genitais: na vagina, na vulva, na região perianal, no ânus. No caso dos homens, as verrugas aparecem na região pubiana, no pênis e na bolsa escrotal.
Lembre-se de que, apesar de o câncer do
colo de útero acometer somente as mulheres, o HPV pode infectar também os
homens. Neles, as lesões dessa infecção podem progredir para tumores malignos
no pênis. Também está associado ao risco de cancer do canal anal e de cavidade
oral (boca).
Em alguns casos, as verrugas aparecem em
regiões extragenitais, como mucosas nasal, laríngea, oral e conjuntiva. Essas
verrugas são da cor da pele e podem provocar coceira, dor e pequenos
sangramentos, mas também podem não causar desconforto algum.
Existem mais de 150 tipos de Papilomavírus humano, que costuma ser transmitido sexualmente. O HPV também pode ser transmitido para o bebê durante o parto, quando a mãe está infectada. Usar preservativo nas relações sexuais, além de ser um método contraceptivo, diminui as chances de contágio do HPV.
Qual é a importância do Março
Lilás?
O Março Lilás para prevenção de câncer do
colo de útero tem uma enorme relevância porque, apesar de ter uma incidência
tão alta entre as mulheres, essa doença tem prevenção e detecção simples. Como
você verá mais à frente, ela gira em torno, basicamente, de vacinação e
realização do Papanicolau preventivo.
Por outro lado, o material Detecção Precoce do Câncer, elaborado pelo INCA,
aborda em detalhes a importância do rastreamento ágil da doença. Quanto mais precoce
o diagnóstico, maior é a taxa de sobrevida e a efetividade das intervenções.
Desse modo, identificar a doença em seus
estágios iniciais contribui não apenas para melhorar as chances de cura, mas
para tornar o tratamento menos exaustivo e invasivo. Ou seja, com medidas
simples, é possível diminuir a incidência e as consequências dessa doença — o
ponto-chave, então, é informar a população.
A vacinação contra HPV
Atualmente, há três vacinas preventivas contra o HPV que foram aprovadas e registradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e estão disponíveis para compra. Todas oferecem proteção contra os tipos de HPV 16 e 18, que são os responsável por 70% dos casos de câncer do colo do útero. A vacina nonavalente, disponível na rede privada, também proporciona proteção contra outros tipos de HPV de alto risco, como 31, 33, 45, 52 e 58, os quais estão ligados a cerca de 20% dos casos de câncer do colo do útero.
Em 2014, o Ministério da Saúde incluiu no Sistema Único de Saúde (SUS) a vacina quadrivalente com o principal propósito de prevenir o câncer do colo do útero. Esta vacina é recomendada para meninos e meninas com idades entre 9 e 14 anos, conforme orientação do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
A Dra. Nádia explica que a vacina foi desenvolvida na Austrália, em 2006, e integra os programas de imunização de mais de 50 países. A indicação da OMS é que a vacinação ocorra entre os 9 e os 26 anos, para mulheres, e entre os 9 e os 14 anos, para homens. Porém, é altamente recomendado que a imunização se dê antes do início da vida sexual. Pode ser recomendado em faixas etárias mais elevadas a considerar o risco individual de exposição ao HPV.
Mesmo com a disponibilidade da vacina em
todo o território nacional, apenas 57% das meninas e 40% dos meninos
brasileiros são imunizados, em média. O principal motivo da baixa aderência à
vacinação é a desinformação e os questionamentos infundados sobre a segurança
do imunizante, um dos motivos pelos quais as campanhas do Março Lilás são tão
relevantes.
O ideal para a prevenção da doença é uma
cobertura de 90% da população. A meta da OMS é chegar aos 90% da população
elegível até 2030, com o objetivo de eliminar a infecção por HPV da lista de
problemas de saúde pública mundial.
O Papanicolau
O famoso Papanicolau é um exame
citopatológico, isto é, que investiga qualquer alteração nas células do colo do
útero. Trata-se de um teste rápido e indolor, acessível a qualquer mulher,
tanto nos planos de saúde quanto no Sistema Único de Saúde (SUS).
O procedimento é simples: com o auxílio de
uma espátula e de uma pequena escova, o profissional de saúde provoca uma leve
escamação da superfície externa do colo uterino.
Esse material é levado para análise, onde
são estudadas as células colhidas para verificar a existência de lesões da
infecção por HPV e seu potencial precursor do câncer do colo de útero. Em
geral, as condutas indicada pelo Ministério da Saúde são as seguintes:
●
ausência de lesões — repetição
preventiva do exame após 1 ou 3 anos, a depender do histórico da paciente;
●
lesões de baixo grau ou
resultado positivo para HPV — repetição do exame após 6 meses para avaliar a
eliminação das lesões. Também é recomendado o tratamento para a infecção por
HPV, que pode incluir apenas o acompanhamento clínico, medicamentos ou
cirurgias;
●
lesões de alto grau — são solicitados outros
exames para confirmar o diagnóstico de câncer, como a colposcopia com
biópsia, conização, entre outros. Se a doença é identificada, são propostas as
condutas para tratamento adequado.
A especialista reforça que o exame de
Papanicolau deve ser oferecido a todas as mulheres após o início da vida sexual
e/ou entre 25 e 64 anos, faixa etária em que há maior ocorrência de lesões, com
incidência aumentada a partir dos 30 anos. A população-alvo inclui homens trans
e pessoas não binárias designadas como mulheres ao nascer.
Quais são os sintomas do
câncer de colo de útero?
A principal característica dessa doença é a
sua lenta evolução, que, muitas vezes, passa despercebida. Desse modo, por
muito tempo, o câncer do colo de útero é assintomático, com sinais evidentes
somente quando já está em fase regionalmente avançada ou mesmo quando já se
espalhou para outros órgãos (estágio metastático).
O mais indicado é ter atenção às
manifestações do HPV para, então, acompanhar a progressão das lesões. De modo
geral, porém, a Dra. Nádia Siqueira cita como sintomas possíveis do câncer em
fase inicial:
●
sangramento vaginal anormal (entre períodos
menstruais ou após a menopausa);
●
dor durante a relação sexual
(dispareunia);
●
sangramento durante ou após a
relação sexual;
●
corrimento vaginal aquoso, com
odor forte e/ou resíduos de sangue;
●
dor na região pélvica.
Em fase mais avançada, o câncer cervical
pode apresentar os seguintes sintomas:
●
evacuações difíceis e
dolorosas;
●
sangramento no reto;
●
dores nas costas;
●
inchaço nas pernas;
●
sensação de cansaço.
Conforme destaca a especialista, é
importante observar que esses sinais podem se relacionar a muitas condições que
não o câncer cervical. Por isso, é fundamental buscar atendimento médico para
descartar diagnósticos diferenciais.
Como prevenir o câncer de colo
de útero?
Resumindo o que vimos até aqui, as três
principais medidas de prevenção do câncer de colo de útero são:
●
tomar a vacina contra o HPV;
●
manter as consultas médicas e a realização do Papanicolau
em dia;
●
usar preservativo nas relações
sexuais, diminuindo as chances de contágio do HPV.
Como você viu, o câncer do colo de útero é
resultado de uma evolução de lesões não tratadas do HPV. Desse modo, evitar a
doença por meio da vacina e do sexo protegido — além de identificar possíveis
alterações rapidamente — é a melhor forma de preveni-la e favorecer a
efetividade do tratamento.
Ressaltamos que, segundo a Dra. Nádia, um
programa de detecção precoce com exames de papanicolau é altamente efetivo na
fase da carcinogênese (quando as lesões são precoces, consideradas
pré-malignas). Desse modo, as chances de recuperação são muito elevadas.
Por isso, o Março Lilás é tão relevante:
com essa campanha, conseguimos conscientizar cada vez mais a população feminina
sobre a importância da vacinação e das consultas regulares ao ginecologista,
assim como sobre a realização do Papanicolau. São medidas simples e que fazem
toda a diferença!
Aproveite para assinar a nossa newsletter e receba outros conteúdos como este diretamente no seu e-mail!
Conteúdo revisado pelo Conselho Técnico da Unimed Campinas.