Diante de cada uma das perdas ao longo da vida, o mistério da existência e a iminência da morte tornam-se mais e mais inquietantes.
A única certeza sobre esse momento é referente a dor que ele traz. Talvez por isso, falar sobre o tema e lidar com a perda de um ente querido seja um tabu para muitas pessoas. É como se apenas por falar sobre estivéssemos nos conectando com a sensação dolorida da circunstância.
No entanto, para compreender melhor aquilo que é desconhecido — que causa angústia — é necessário dialogar sobre as questões envolvidas e se permitir sentir as emoções que a situação gera. Ou seja, é preciso vivenciar o luto. Vamos entender melhor sobre o assunto na sequência.
O que significa a dor da perda?
A dor de perder alguém envolve muitos aspectos. Quando percebemos que aquela pessoa que tanto amamos não fará mais parte de nossos dias, uma série de conflitos internos é despertada.
Além do sofrimento que parece não cessar, é inevitável não pensar em como será o futuro diante do que aconteceu, quais as coisas que ficaram por fazer com a pessoa e até mesmo questionamentos mais profundos como "por que morremos" e "para qual lugar iremos".
Diante das circunstâncias, esses pensamentos são esperados. Isso porque somos colocados face a face com a constatação de nossa vulnerabilidade enquanto seres humanos e tomamos ciência, concretamente, da nossa existência finita.
Entrar em contato com tudo isso é bastante doloroso. E mesmo quando o luto é do outro, ainda assim, lidar com a dor é pouco suportável para muitas pessoas.
Quais são as fases do luto?
O período enfrentado após a perda de alguém é conhecido como luto. Nessa fase, alguns comportamentos são bem característicos, embora não sejam regra e possam surgir de formas e em tempos diversos, de acordo com a experiência de cada pessoa.
Para identificar de maneira mais clara em que ponto uma pessoa enlutada se encontra, são consideradas as seguintes fases:
- Negação: é quando a pessoa ainda não consegue aceitar a perda e nega para si e para os outros que o fato aconteceu;
- Raiva: é o momento em que o enlutado é tomado por um sentimento de revolta pela finitude da vida, onde questiona o porquê o ente morreu e não outras pessoas, incluindo a si mesmo;
- Negociação: aqui é a hora em que existe uma tentativa de "barganhar" com Deus ou com entidades divinas, para que o pior não aconteça. É mais comum em situações paliativas ou no luto em vida por algum término ou doença mentalmente incapacitante;
- Depressão: é um dos momentos mais delicados do luto, no qual a pessoa compreende o que aconteceu e percebe que não há mais o que possa ser feito. Tristeza profunda, isolamento, choro e até mesmo silenciamento são muito presentes;
- Aceitação: é a última fase do luto. Após elaborar e clarificar todos os aspectos da perda, a pessoa começa a encontrar motivos para continuar sua vida, mesmo após os desafios.
Não há um limite de tempo para que todo esse processo possa ser finalizado e a ordem das fases não é fixa. Contudo, alguns sinais indicam se a elaboração do luto é saudável ou se está evoluindo para um quadro patológico — que é quando o adoecimento mental se instala.
Qual a importância de vivenciar o luto?
Quando o enlutado não avança em nenhuma das etapas citadas, ou se começa a apresentar comprometimentos cognitivos graves como alucinações e delírios, ou até mesmo pensamentos recorrentes sobre a morte; se, ainda, deixa de realizar ações básicas do dia a dia, como comer e dormir, pode estar sinalizando uma dificuldade para lidar com a situação.
As perdas fazem parte da vida humana e acontecem em diversos momentos de nossa existência. Portanto, é essencial se permitir vivenciar o luto, de maneira saudável.
Cada pessoa tem uma maneira específica de lidar com sua dor, porém algumas atitudes podem ajudar no processo, como:
- Permitir a livre expressão dos sentimentos por meio do choro ou da tristeza;
- Falar sobre a pessoa que partiu sempre que sentir vontade, com quem possa ouvir sem julgar;
- Respeitar o desejo de isolamento esporádico ou, ao contrário, a vontade de interagir com os outros;
- Criar uma rede de apoio com pessoas que sejam empáticas;
- Buscar livros, filmes e materiais que falem sobre o processo do luto;
- Participar de grupos de apoio ao enlutado;
- Buscar ajuda psicoterapêutica.
Essas atitudes podem evitar o desenvolvimento de doenças psicossomáticas — adoecimentos de fundo emocional que se manifestam fisicamente — e mentais, como a depressão, os transtornos ansiosos e as fobias.
Quais são os riscos de negligenciar o luto?
Os riscos podem ser desde tornar o momento do fim da vida um evento traumático para sempre — desenvolvendo a tanatofobia, ou medo extremo da morte —, até ocasionar o agravamento do luto para uma condição psicopatológica, na qual a pessoa não consegue se recuperar da perda.
Além disso, como citamos, outros distúrbios mentais podem surgir de um processo de luto mal desenvolvido, como os transtornos depressivos e ansiosos.
É importante estar alerta para os cuidados com a saúde de uma maneira geral, pois quando um aspecto não vai bem no corpo humano, tudo entra em desequilíbrio.
Como ressignificar a vida após o luto?
A principal atitude é não evitar o sofrimento. É fundamental passar por todas as fases do luto — reforçando que cada pessoa vivencia as etapas de maneiras e em tempos diferentes — para conseguir transcender a situação.
O apoio de pessoas positivas, empáticas e dispostas a ouvir sem tecer julgamentos também contribui com a melhora dos enlutados. Esse suporte é crucial, pois traz segurança na hora de compartilhar dores e angústias.
Por fim, a prática do autoconhecimento é uma ferramenta valiosa, que pode ser utilizada no intuito de identificar motivadores internos para a etapa da vida após a perda. É uma forma, também, de cuidar da saúde mental e da regulação das emoções.
Além disso, se surgirem desafios e impasses durante o processo de ressignificação, a ajuda de profissionais especializados na área pode facilitar o trajeto.
As perdas sempre serão circunstâncias delicadas na vida dos seres humanos. Porém, ao se permitir viver o momento, e ao entrar em contato com os sentimentos — até mesmo com a dor —, o luto pode ser vivenciado de maneira natural e sem prejuízos psicológicos permanentes.
Conteúdo revisado pela equipe de Medicina Preventiva da Unimed Campinas.