O suicídio é um problema de saúde pública, a nível global. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa continua sendo uma das principais e mais preocupantes causas de morte ao redor do mundo e só aumenta diante das condições de instabilidade mundial.
Apesar do assunto, hoje, ser continuamente abordado nas mídias — principalmente após ações como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/09) e a escolha do mês de setembro como o Setembro Amarelo —, para algumas pessoas, ainda é um tabu.
É preciso pontuar que o suicídio é decorrente de uma série de fatores e que não tem nenhuma relação com falha de caráter, desejo por atenção ou outros pré-julgamentos do tipo.
Neste artigo, apresentamos o que realmente
pode levar um indivíduo a atentar contra a própria vida, além de outras
informações importantes sobre o tema. Acompanhe!
Quais são os dados sobre o
suicídio no Brasil e no mundo?
Os índices de suicídio no Brasil e no mundo são assustadores. Segundo a OMS, apesar das taxas globais terem diminuído ao longo da última década, ainda são mais de 800 mil pessoas que morrem por conta do suicídio, todos os anos.
Na contramão da diminuição das taxas globais de suicídio, os países da América tiveram um acréscimo de 17% nas estatísticas anuais.
No Brasil, a situação é ainda mais crítica: um aumento de 43% de mortes ao ano por suicídio, entre 2010 e 2019 — segundo último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde — nos leva ao número alarmante de mais de 12 mil suicídios por ano.
Ou seja, os dados refletem o grande desafio
a ser enfrentado no que se refere à contenção da mortalidade por suicídio no
país e no mundo, de forma geral.
Quais são as faixas etárias de
risco?
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, os homens com 70 anos ou mais são os mais afetados pelo suicídio, sendo que a taxa de conclusão de suas tentativas é de duas a quatro vezes maior quando comparada à da população feminina.
Logo em seguida, vem a faixa entre os 20 e 59 anos. No entanto, nos últimos anos, os índices aumentaram também entre a população adolescente. Quanto às lesões autoprovocadas, os dados apontam para mulheres entre 20 e 39 anos.
A diferença entre a população que provoca
autolesões e a população que conclui o suicídio pode ser explicada pela
natureza mais agressiva nas tentativas dos homens. Ou seja, a parcela masculina
é mais propensa a concluir o ato em si.
Quais são os comportamentos de
alerta para o suicídio?
É comum que as pessoas tenham a percepção de que um
comportamento suicida é repentino. Contudo, esse fato não corresponde à
realidade. Os sinais que precedem um suicídio são, em geral, bem
característicos e começam a aparecer com frequência. Veja alguns deles:
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Sentimento de infelicidade
constante: a pessoa se sente infeliz, triste e sem esperança, mesmo diante de
eventos positivos;
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Isolamento social:
principalmente adolescentes podem apresentar esse comportamento;
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Apatia: quando não há
manifestação de nenhum sentimento ou expressão, a pessoa se torna indiferente
aos acontecimentos;
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Excitação extrema e repentina:
o contrário da apatia, também pode acontecer. A pessoa demonstra uma felicidade
instantânea que, em geral, não apresentava;
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Sentimento de inutilidade no
mundo: frases como "não sirvo para nada", "sou um peso ou um
estorvo", "se eu não existisse tudo seria melhor" são típicos
sinais de alerta;
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Sensação de que nada pode ser
resolvido: a pessoa acredita que não existe nenhuma solução para seus problemas
(que podem ser econômicos, de relacionamento, de saúde etc.) e pode demonstrar
isso em expressões como: "só eu morrendo para isso acabar";
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Percepção de causar incômodo:
por achar que não é útil, não é raro, no comportamento suicida, o indivíduo
dizer: "logo vocês estarão livres da minha presença", "vou dar
um jeito de acabar com tudo", "vou desaparecer";
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Preocupação com a morte: esse
tema passa a ser constante para a pessoa, que se preocupa em demasia com a sua
morte e com a dos outros;
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Uso abusivo de substâncias
tóxicas: drogas, bebidas e remédios.
Esses sinais não são os únicos e tampouco
representam uma regra para o comportamento suicida. No entanto, costumam
aparecer em quadros como esse.
O que pode ocasionar um
comportamento suicida?
O comportamento suicida engloba uma série de fatores. Desde vulnerabilidades sociais, como desemprego, crises econômicas e fome, passando por situações estressantes e tóxicas, como relacionamentos abusivos, maus-tratos e violência doméstica, até eventos mais esporádicos, como um rompimento afetivo ou uma briga familiar.
Os traumas e a exposição à situações vexatórias, como bullying, discriminação por orientação sexual, cor da pele, identidade de gênero, condição social, religião ou, ainda, a agressão psicológica — seja em ambiente familiar, escolar ou no trabalho — também são eventos de risco para um comportamento suicida.
Em algumas situações, o indivíduo pode estar acometido por algum adoecimento mental, como transtornos depressivos, alimentares, ansiosos e bipolares.
Mas isso não significa que todas as pessoas com distúrbios mentais têm comportamento suicida, assim como nem todos com comportamento suicida têm alguma psicopatologia.
Em geral, a pessoa que pensa no suicídio
busca uma solução definitiva e rápida para um sofrimento que pode estar
enfrentando há muito tempo, ou para resolver alguma circunstância que parece
não ter saída. O desejo não é necessariamente o suicídio, mas, sim, o fim da
dor.
Quando e como buscar ajuda?
Diante de mudanças bruscas de comportamento, ou do agravamento de alguma das situações citadas, é o momento de buscar ou oferecer ajuda. Se você notar em alguém que conhece alguns dos sinais de alerta para o suicídio, não hesite em oferecer auxílio.
Muitas pessoas acreditam que, ao perguntar ou mesmo ao falar com quem demonstra comportamentos suicidas, pode estar contribuindo para que o indivíduo reforce o pensamento de tirar a própria vida. No entanto, é justamente o contrário.
Ao dialogar sobre os sentimentos da outra pessoa, inclusive sobre o desejo do suicídio, muitas questões podem ser esclarecidas e até mesmo soluções podem ser encontradas em conjunto.
Deixe que ela saiba que você está ali para ela, sem preconceitos. Não julgue, nem use frases do tipo "logo tudo passa", "tem gente que está pior", "você está distante de Deus" ou "olha quanta coisa boa você tem na vida". Elas só farão a pessoa se sentir pior e mais culpada pelo que já se sente.
Se for alguém da sua convivência diária, esteja por perto e cuide para que o ambiente esteja seguro, até que a pessoa se estabilize. Se possível, não a deixe sozinha por muito tempo, principalmente se notar os sinais agravados.
É importante buscar ajuda de profissionais especializados em suicídio — como psiquiatras e psicólogos —, grupos de apoio e todas as ferramentas disponíveis para auxílio. Se não puder acompanhar, certifique-se de que a pessoa vai procurar pelo suporte e sempre esteja em contato.
Quanto mais pessoas puderem fazer parte da rede de apoio aos indivíduos com comportamento suicida, menores serão as chances do ato se concretizar e mais vidas serão salvas nesse cenário preocupante de saúde mental.
Conteúdo revisado pela equipe de Medicina Preventiva da Unimed Campinas.