Há algumas décadas, fumar era considerado algo moderno e
elegante, até mesmo ligado à entrada na vida adulta. No entanto, hoje já
estamos muito mais cientes dos prejuízos que esse hábito traz e da estreita
relação entre tabagismo e saúde mental.
Nem todo mundo sabe, mas, muitas vezes, quem começa a fumar
faz isso em função de problemas emocionais que já existem. Contudo, a situação
tende a se agravar, pois as substâncias presentes no cigarro causam dependência
física e emocional.
Como esse é um tema de saúde pública, conversamos com a
psicóloga Daniele Fanti, especialista em medicina preventiva da Unimed
Campinas, para que ela pudesse explicar melhor o que tabagismo e saúde mental
têm a ver um com o outro. Continue lendo para descobrir.
Por que se preocupar com a saúde mental e
emocional?
Quando falamos a respeito de saúde mental e física, muita
gente imagina as duas de forma independente. No entanto, aquilo que acontece
com o nosso estado emocional afeta o corpo e vice-versa, conforme explica
Daniele.
“Não é possível separar a saúde emocional da saúde
física, pois elas estão conectadas. Devido a isso, o nosso corpo costuma ser
impactado negativamente por nossas emoções, sentimentos e posturas. Isso afeta
diretamente o funcionamento do nosso organismo por meio da somatização, ou
seja, sintomas físicos que têm causa emocional”.
Já deve ter acontecido com você, por exemplo, de ficar
triste ou com raiva e sentir dor de cabeça ou no estômago. Em um momento de
nervosismo ou de ansiedade, também pode acontecer de sentirmos
desconfortos intestinais. Esses são alguns sintomas de somatização.
Eles se manifestam porque as nossas emoções fazem com que o
organismo altere a sua própria química por meio da produção e liberação de
hormônios e neurotransmissores. Eles entram na corrente sanguínea e afetam os
órgãos mais sensíveis.
Para Daniele, cuidar da saúde mental e emocional atualmente
é indispensável por causa desse impacto direto na saúde, em nossa vida e nas
relações como um todo.
Como o cigarro pode afetar sua saúde
emocional?
Conforme explicamos, podemos perceber a relação entre
tabagismo e saúde mental quando uma pessoa toma a decisão de começar a fumar.
Segundo Daniele, em muitos casos o tabaco funciona como uma válvula de escape
para as situações e emoções desagradáveis.
“Tem-se percebido que muitos tabagistas têm,
concomitante, algum tipo de sofrimento ou transtorno mental, como ansiedade e depressão. Assim, usam o cigarro como fuga e
tentativa de redução dos sintomas”, explica a psicóloga.
No entanto, o resultado não é tão satisfatório. Isso porque
o tabaco mascara o problema existente, logo, ele não é combatido de forma
satisfatória. Existe apenas uma falsa sensação de que tudo está bem. De acordo
com a psicóloga da Unimed Campinas, isso acontece porque a nicotina é uma
substância psicoativa, com efeito passageiro.
“No momento do uso, são liberados neurotransmissores
responsáveis pela sensação de prazer. O problema é que essa sensação se
desativa rapidamente. Portanto, precisamos nos desvincular dessa falsa sensação
e buscar algo que realmente será eficaz e tenha efetividade, em vez de algo passageiro”,
ressalta a especialista.
Em relação aos adolescentes, Daniele explica que os motivos
pelos quais eles começam a fumar são um pouco diferentes. Nesse grupo, a
maioria inicia o hábito em busca de aprovação social, por rebeldia ou apenas
pela necessidade de autoafirmação.
Contudo, a psicóloga reforça que a nicotina é uma substância
que gera um alto índice de dependência. Sendo assim, a saúde mental é afetada
em todos os grupos de fumantes em função da necessidade que o corpo e a mente
desenvolvem de sentir os efeitos causados pelo cigarro.
Quais as consequências do tabagismo na
saúde mental e emocional?
Não é novidade que o tabaco causa grandes prejuízos para a
saúde física. Ele é o responsável por diferentes tipos de doenças e
se caracteriza como um fator de risco para a manifestação de outros quadros,
muitas vezes graves e oferecem risco de vida. Mas é importante lembrar também o
que o tabagismo causa na saúde mental e emocional.
Daniele explica que as consequências acontecem de forma
direta e indireta. Segundo ela, a nicotina altera o sistema nervoso central e
modifica o estado emocional e o comportamento do fumante, justamente o que leva
à dependência.
De forma indireta, a psicóloga esclarece que o tabagismo
tende a piorar as relações pessoais, íntimas ou profissionais. Isso acontece em
função do comportamento compulsivo em relação à substância.
Geralmente, ele está presente nos momentos em que as emoções
se afloram. Quando a pessoa se sente estressada, angustiada ou ansiosa, ela
busca o tabaco para "relaxar". Quando está em um momento
descontraído, tomando um café ou bebendo com os amigos, também decide fumar.
Assim, inicia-se um ciclo que não se encerra. Acontece a
dependência emocional, impulsionada pela dependência química e vice-versa.
Ele tende a ingerir mais dessa substância para poder se
aliviar, porém, como dito, essa sensação é passageira. O estresse, as emoções e sentimentos desagradáveis
vão surgir novamente e, mais uma vez, o fumante vai procurar o cigarro na
tentativa de se sentir melhor.
Outro problema muito preocupante é que a nicotina pode
causar alterações nas estruturas cerebrais. Com isso, ela favorece a ansiedade
patológica, a depressão e os transtornos do pânico. Tudo isso porque, o ato de
fumar acontece na intenção de lidar com as situações desconfortáveis.
Os impactos da retirada do tabaco
Também podemos perceber a relação estreita entre tabagismo e
saúde mental quando uma pessoa tenta parar de fumar. Geralmente, ela sente dificuldade
porque existe o fator da dependência química, social e emocional. A falta da
nicotina no organismo provoca efeitos físicos e mentais em curto, médio e longo
prazos, conforme explica Daniele.
“A curto prazo, o corpo vai reagir à falta da nicotina
por meio dos sintomas de abstinência. Psicologicamente, é sentido pela necessidade
de mudança de hábito e comportamento. Em médio e longo prazo, vemos melhora
e/ou remissão dos sintomas, uma redução das alterações de humor e maior
controle das emoções e sentimentos”.
Portanto, a dificuldade é sentida principalmente nos primeiros
momentos, quando o corpo está começando a se desintoxicar e vencendo a
dependência. Conforme a pessoa persiste na retirada do tabaco, ela tende a se
sentir melhor e com menos necessidade de fumar.
Por isso é tão importante contar com a ajuda de especialistas
para abandonar o tabagismo. Segundo a psicóloga da
Unimed Campinas, é difícil manejar os sintomas de abstinência física e
emocional quando a pessoa tenta abandonar o cigarro sozinha.
“O papel dos especialistas é o suporte educacional,
psicológico e medicamentoso, quando necessário, a fim de reduzir os efeitos
colaterais da abstinência e apoiar a pessoa, encorajando mesmo diante das
recaídas”, esclarece Daniele.
Por tudo isso, podemos perceber que o cigarro é, na verdade,
uma grande armadilha. A pessoa começa a fumar na tentativa de administrar as
suas emoções, consegue um efeito passageiro e tende a sentir impactos negativos
mais expressivos em função da dependência que desenvolve.
Para evitar essa armadilha, o ideal é não começar a fumar.
Para quem já é fumante, contar com o apoio de especialistas é fundamental para
lidar com a relação entre tabagismo e saúde mental da melhor forma,
libertando-se da dependência e aprendendo a trabalhar as próprias emoções da
maneira correta.
Sabia que a Unimed Campinas tem um programa de cessação do
tabagismo com equipe multidisciplinar e serviço assistencial? Conheça o Respira e Não Pira e veja como
aproveitar a oportunidade de interromper o uso do cigarro com o apoio de especialistas.
Conteúdo revisado pela equipe de Medicina Preventiva da Unimed Campinas.